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Underground no Rio de Janeiro = Torre de Babel

Preparar uma matéria que fale da cena underground do Rio de Janeiro é de certa forma uma pesquisa sociológica e antropológica. Nos deparamos com muitas histórias, caminhos a seguir e círculos viciosos. Reflexos de uma cidade que de herança cultural quase não tem nada, ao menos não há efervescência e ebulição como em outras capitais, e, além disso, vive do modismo imposto pelo verão…
Se os fenômenos naturais continuarem dando as cartas e as calotas polares continuarem a derreter, qual será o futuro dos cariocas e fluminenses?
Bandas novas estão surgindo, algumas antigas estão voltando e há muitas bandas que estão na estrada há mais de uma década levando o nome do Rio de Janeiro para tudo quanto é lugar.
A produção cultural sempre foi intensa e mesmo com a ofuscação provocada pelo verão e suas modas passageiras o Rio de Janeiro conseguiu seguir as tendências culturais. E foi assim que bandas como TaurusDorsal AtlânticaExtermínioPacto SocialGangrena GasosaSex NoisePoindexter, Desordeiros do Brasil e muitas outras surgiram nos anos 80 e 90 e de lá para cá muitas outras surgiram. Atualmente muitas levam o nome do Rio de Janeiro para além das fronteiras brasileiras como é o caso do Confronto, Ataque Periférico e Jason que já pisaram no velho continente levando o hardcore carioca.
E, mesmo com o esforço de integrantes de bandas e amantes do rock e suas vertentes (punk, hardcore, metal, thrash, psycho, SxEx), não só a cidade, mas o estado do Rio de Janeiro vive uma realidade promissora, porém limitada.
Que linda e triste contradição…
Afinal, não basta ter bandas, e são muitas, espalhadas por todos os bairros e cidades, mas é preciso que o público compareça. Muito se fala sobre a cena, mas pouco se faz. O público do Rio de Janeiro é uma loteria. Nunca se sabe se um show do Bad Brains ou de uma banda cover, por exemplo, ficará vazio ou será sold out. Reclama-se muito das bandas grandes e gringas que não aportam na cidade maravilhosa para fazerem shows, mas quando vêm nem sempre o resultado é casa cheia, pessoas trocando idéias e materiais, sem contar na quantidade de “calotes” que algumas bandas já sofreram na cidade.
Faltam locais fixos para shows. Os poucos que existem correm o risco de fechar ou ficam pendurados pelo invisível fio da utopia, porque o público simplesmente não comparece e quando comparece não quer contribuir para a manutenção da casa, que todos sabemos, tem seus gastos e a casa continua aberta por ideologia, por amor ao underground. Mas se é um bar que foi “emprestado” é fato que a falta de público assina a ordem de despejo de bateria, estantes de pratos, amplificadores, microfones e cabos, dando lugar a um jukebox que tocará os “sucessos” do momento.
O fato é que, assim como falta força de vontade política para que a criminalidade seja combatida nos morros da cidade, falta vontade cultural do público, que prefere o conforto do seu lar, baixando vídeos e mp3’s no seu computador, a ter que encarar 30 minutos num ônibus (em alguns casos) para ver uma banda com trabalho autoral subir ao palco e dar o seu recado.
E então vem a pergunta que já atormentou muitas cabeças: existe uma cena no Rio de Janeiro?
E a resposta é sim. Existe. Existem bandas ensaiando e tocando em bares de graça (muitas vezes com seus próprios amplificadores de ensaio), colocando em prática o bom e velho faça-você-mesmo. Bandas que utilizam a internet para divulgar seus trabalhos, mas que querem mostrar a cara e ter contato com o público.
Infelizmente é comum acontecerem shows que o público é composto pelas bandas que tocarão na mesma noite. Onde estão os integrantes de outras bandas? Porque não comparecem para prestigiar e fortalecer o evento? Essa é uma incógnita que desafia os produtores e pessoas compromissadas com a cena underground no Rio de Janeiro.
Seria muita pretensão fazer o retrato com apenas um sorriso. Muitas pessoas compuseram e compõe a cena underground do Rio de Janeiro, observando, debatendo, acudindo-a quando ela está no CTI e por essa razão segue um bate-papo reto, com alguns “sorrisos” que compõem essa foto, pessoas que correm atrás e fazem barulho no cenário (algumas vezes cada um falando uma língua), tirando leite de pedra e mantendo a cena viva, cada um a seu modo.

Por Deise Santos

01 – Como era a cena underground carioca quando você começou a freqüentar os shows?

Boka: Há 12 anos quando comecei a freqüentar shows, o underground do Rio era basicamente o Garage, com apoio da Kachanga (Botafogo) e Casarão Amarelo (Copacabana).

Athos: Bom, quando eu comecei a freqüentar shows de rock em 2001 ou 2002, ficava na zona oeste, rolava um evento chamado Rato no Rio. Um evento independente, underground, que reunia de 700 a 1000 pessoas por edição. Muitas bandas boas tocavam lá.

Rafael: Era mais ou menos como é hoje, comecei em 1999.

Fábio: Poucas bandas, menos lugares ainda pra tocar e muito pouca gente interessada em conhecer bandas novas. O HC estava chegando por aqui, assim como o thrash metal e o crossover. As bandas que mais se destacavam na cena carioca eram o Soutien Xiita (que apostava no Pornô Punk), o Poindexter (e seu RAPcore), o Gangrena Gasosa (que apesar do termo “Saravá metal”, fazia um thrash metal personalíssimo), o Sex Noise (que investia numa mistura de Stooges com Sex Pistols, com muita personalidade) e o Piu Piu & Sua Banda (que ressuscitava o rock nacional dos anos 80, simples e direto, com letras escrachadas, bem a cara do carioca, isso antes da moda “revival ano 80”).

Alexandre Bolinho: Fins dos 80’s, era um amontoado de headbangers rasgados e punks malcheirosos! Me identifiquei com os malcheirosos e me tornei um deles. Os shows não eram muito freqüentes – tinha o Caverna em Botafogo e, raramente, Circo Voador. Público era “sempre as mesmas caras” e isso acabava aproximando – tenho amigos daquela época até hoje. Muitas bandas de thrash metal e algumas punks bacanas. No início dos 90’s a coisa começou a crescer – lembro que a gente ia pro recém inaugurado Garage pra ver vídeos do DRI. Trocávamos fitas k7 pra nos atualizar com as novidades. Era mais duro, lembro que quando a gente descobria uma banda foda e dividia com os amigos, era coisa pra um mês comentando (lembro de conhecer o Bad Religion na pista de sk8 do Arpoador em 89, o Operation Ivy durante um show no Garage em 92 e por aí vai…). Mas não sou nostálgico: AMO MP3 e free downloads!

Michael Meneses: Comecei a freqüentar a cenas e os shows do rock no Rio em 1991 com o Rock in Rio 2, shows do Ratos de Porão com Volkana na turnê do disco Anarkofobia no Circo Voador, muitos shows no Caverna II em Botafogo, DeFalla realizando o primeiro show do Garage em agosto de 1991 (antes a casa exibia vídeos de rock), os shows no Teatro de Arena de Campo Grande como o Memorável Arena Do Heavy que mesmo com esse nome abria espaço para bandas punks e alternativas. E vale lembrar que o Teatro de Arena de Campo Grande mais tarde passou a ser a primeira Lona Cultural do Rio, Bar do Paulinho em Realengo entre outros. Era uma época mágica onde as pessoas saíam de qualquer parte da capital, Grande Rio, Niterói para ver um show de rock com bandas autorais. O rock era unido e as subdivisões do Rock (Metal, Punk, HC, Progressivo…) eram praticamente uma coisa só, as pessoas podiam não gostar de uma banda ou outra, mas no final geral na sua maioria se respeitava.

Julio Longo: Acho que havia menos bandas e mais lugares pra show. Os shows eram piores, com equipamentos sofríveis, com muito pouco ou sem nenhuma organização etc. Em compensação, a cena era menos centralizada, geograficamente. Havia mais casas de show na Zonal Sul (Kachanga, Beco da Boemia, Casarão Amarelo), na Zona Norte havia o Garage que era um verdadeiro pólo de música pesada e na Zona Oeste havia festivais como o Rato no Rio, espaços como o 911 e tantos outros que atraíam a molecada.

Davi Baeta: Comecei a freqüentar na minha cidade Cabo frio, posteriormente adentrando aos eventos na capital, aqui a cena era sustentada por alguns membros das poucas bandas atuantes que se organizavam fazendo os shows, o público era diversificado dentro do alternativo, hardcoreanos, punks, metaleiros (aí eu à época incluso), grunges etc., poderíamos dizer positivamente que a cena era unificada e essa foi a primeira diferença que senti quando passei a ver shows na capital e nesta era claro a segmentação da cena em suas subdivisões sendo a interseção dos gêneros. A estrutura à época era precária, não havia a preocupação com equipamento e muito menos ouvia-se falar de dinheiro, cachê etc.

Perninha: O underground quando eu comecei a frequentá-lo tava numa fase mais analógica (risos), tempo de fitinha cassete. Todo mundo fala que aquele tempo que era bom coisa e tal, o foda é que naquela época não dava pra ter a mesma facilidade de contato de hoje em dia.

Kitia: Poucos shows, pouca gente e lugares de difícil acesso.

Mauk: Era um pouco diferente, os lugares em sua maioria não existem mais. Vi shows na Papagaio Disco Club onde rolava a festa “Papawave” que era do Zé Roberto Mahr, as Boates tinham sempre show e o público em geral acho que mais interessado em assistir.

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02 – Como você define a cena underground carioca atualmente?

Boka: Com o fim do Garage, o Casarão Amarelo segregou de vez a zona sul do resto da cidade. A aparição de novos picos trouxe consigo uma tendência quase bairrista de bandas. Como o 911, em Bento Ribeiro que foi o início das bandas Ataque Periférico, Pau de Sebo e Repúdio.

Athos: Posso citar inúmeros problemas que a cena está passando. Os principais a meu ver são: a cena não se renovou (e temos culpa por isso); faltam lugares de médio porte; acostumamos o público com shows gratuitos; somos demagogos, defendemos uma união, mas somos os primeiros a segmentar. Poucas são as pessoas que fazem as coisas acontecerem realmente. A movimentação da cena está restrita a um número muito reduzido de pessoas. O público, bandas, ninguém interage mais. Um empurra a responsabilidade pro outro e as coisas não andam.

Rafael: Bom a cena hardcore está muito esquisita, a galera não é muito fiel, pode ter o show que tiver, se for feriadão esquece, vai ficar vazio!! Tem a cena do metal que faz uns eventos grandes e atrai um público bem fiel que lota os lugares, tipo, a quadra do Bangu Atlético às vezes fica lotada de metaleiro.

Fábio: Não acompanho mais com a freqüência que acompanhava nos anos 90, em função de trabalho e vida pessoal, mas vejo, que o nível de hoje, é bem melhor no que se refere à qualidade musical e de recursos disponíveis. Hoje em dia, temos mais acesso às informações e os recursos para reproduzirmos o que é feito no restante do mundo. A internet democratizou o acesso às novas bandas, através de sites como MySpace e Purevolume, e facilitou a troca de informações, e por conseqüência a organização de shows. Os shows também estão mais numerosos, o que é altamente positivo, mas vejo que se consome menos pela cena em termos de compras de Demo, camisetas e demais produtos das bandas. O público presente nos mesmos também aumentou, mesmo que muitos estejam no local para verem e serem vistos, e baterem fotos para ilustrar fotologs, e poucos para conhecerem bandas novas.

Alexandre Bolinho: Tenho ido pouco aos shows. Vejo uma cena vegan/SxEx forte com shows cheios – talvez um dos poucos públicos que consegue colocar bons públicos hoje em dia nos seus shows; e, o que acho engraçado, um “revival” do crossover dos 80’s. Mas às vezes, quando vejo shows vazios e o pessoal reclamando de “desunião” da cena, parece que ainda estou em 1990. Uma coisa que era bacana e que, hoje, sinto falta era uma maior diversidade de estilos e bandas. Mas vejo muita molecada agitando, produzindo seus próprios shows e sons, e isso mostra que a coisa sempre será viva!

Michael Meneses: Muita coisa melhorou, temos vários meios para divulgar a cena, em sua maioria por conta da internet, mas não temos uma Rádio rock no Dial, a esperança agora é a filial da KISS FM no Rio previsto para o ano que vem. A falta de união no rock é o que mais me incomoda. Outra coisa que por incrível que pareça é um atraso é o grande número de shows acontecendo, e o pior em muitos casos todos no mesmo dia e hora. Os organizadores deveriam se comunicar e marcar datas livres, e nunca marcar eventos na mesma data de um outro evento. Às vezes chega a acontecer 3, 4 eventos só na capital e/ou em cidades vizinhas no mesmo dia e hora. Para mim o ideal é um show por dia, isso faria com que mais pessoas comparecessem no único evento daquele dia. Teve épocas nos anos 90 que sexta e sábado era dia de ir ao Garage, e domingo ao Caverna. E no final todo mundo se divertia.

Julio Longo: A cena carioca tem bandas importantes e de altíssimo nível, mas com um público pequeno e que ficou mal acostumado com shows gratuitos. Hoje existem muito mais bandas, muito mais informação, mas os espaços pra show em si são mais escassos. Em compensação, em outras cidades do estado como em São Gonçalo, Niterói, Barra Mansa e na Região dos Lagos, há um crescimento que permite a algumas bandas com um pouco mais de estrutura fugirem ao marasmo da capital. A cena fluminense, como um todo, é extremamente promissora, com excelentes bandas no interior do estado que estão buscando um merecido reconhecimento e festivais (principalmente em Cabo Frio e São Gonçalo).

Davi Baeta: Diria que dividida, parte modista com grande apelo jovem e desconexa às questões pertinentes, à que respondem bandas como Forfun, Dibob e emos diversas, outra de shows e festivais com quinhentas bandas cover que obviamente se sustentam só pela quantidade de gente naturalmente trazida pelos membros e por último a da velha guarda mais ou menos as mesmas pessoas de tempos atrás e público idem.

Perninha: Bicho… Tem banda boa pra caralho, e muita delas são bandas da época em que o pessoal amava ir nos shows, comprar demo-tape e se interar com a rapaziada. Acredito que estamos passando por uma fase de “reciclagem”, a rapaziada de uns cinco anos atrás que era mais ativa, agora tá casada, arrumou emprego, o pai cortou mesada, arrumou uma namorada(o) que não deixa ir pro rock sujo etc.

Kitia: Fraca, ninguém valoriza o rock em geral, os músicos tocam e não tem nem direito a um copo de água, cachê então, só em sonho… Sem contar que ninguém quer pagar pra entrar em shows, preferem beber do lado de fora do que pagar 1 real que seja em um ingresso. Reclamam de todo o pouco que ainda tem.

Mauk: Acho que hoje existem mais bandas e é mais fácil de se tocar com um bom equipamento, também é mais fácil divulgar.

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03 – Qual era/é sua colaboração para a cena underground carioca?

Boka: Há alguns anos, eu organizava eventos na Ilha do Governador, com bandas como Ataque Periférico, Solstício, FOMI, Defront, Social Chaos, Enciende e Horrificia; dentre outras. Hoje em dia, me limito a tocar com Uzômi e Satangoss.

Athos: Comecei a atuar de fato na cena quando entrei pro Ataque Periférico, em 2006. O pessoal da banda sempre foi correria. Comecei a fazer as coisas com eles e tomei gosto. Hoje em dia tenho uma produtora A&R Produções, fazemos um festival mensal, Creu Fest e às vezes, produzimos shows na Audio Rebel. Escrevi para o Portal Rock Press sempre sobre assuntos relevantes à cena, toquei no Ataque Periférico e agora toco na Against.

Rafael: De vez em quando eu organizo show com o Athos.

Fábio: Após anos de “batalha” pela cena underground, editando zines, tocando, organizando shows, ou fazendo programa de rádio, a gente chega num momento de nossa vida aonde nem tudo vale à pena, em função do pouco tempo que nos resta para as “não-obrigações”. Em função disso, apenas sigo ensaiando e fazendo alguns shows com a minha banda, o Fokismo, e pretendo em breve retornar ao menos à organização de eventos de pequeno porte.

Alexandre Bolinho: Porra, difícil essa hein!! Bem, let’s go. Quando era moleque, ia aos shows e tentava, na medida das minhas possibilidades, pagar a entrada (sempre odiei essa “cultura vip” do Rio, em que todos se acham no direito de ser “convidados da banda” ou coisa afim). Bem, claro que já teve vezes que completei a entrada do Garage com vale transporte (risos). Enquanto tive bandas – e tenho até hoje – tentei produzir meus próprios shows e agregar outras bandas nestes. Claro que você sempre acaba tomando pernada, tendo que tocar com neguinho que acha que é o Black Flag revivido, banda que chega, toca e sai fora, mas no fim das contas valeu a pena. Tem pequenas coisas que tentei com a galera das minhas bandas fazer que acho que, por menores que sejam, ajudam. Tipo: sempre chegamos aos shows nos quais fomos convidados com uma hora de antecedência – até pra ajudar em alguma coisa de montagem e tal. Sempre tentamos ficar vendo todas as bandas que tocariam conosco – da primeira até a de encerramento.

Hoje em dia, velho e senil, acostumo comprar CD’s de bandas nacionais – e só baixar as gringas – quando a preguiça permite.

Michael Meneses: Ainda em Aracaju, comecei a participar de Zines e a divulgar shows, bandas, lojas e toda cena de Sergipe. Vim ao Rio e continuei com o Other Side Zine que já não existe mais, e logo que fui me enturmando com a cena da Zona Oeste Carioca, eu fui fazendo o mesmo aqui. Colei muito cartaz pelas ruas promovendo shows na Lona Cultural de Campo Grande e do Lava Jato Bangu nos anos 90. Como fotógrafo, eu fiz muita foto de banda nova, algumas que nem existem mais e outras estão na cena até hoje como o Gangrena Gasosa e Sex Noise. Além disso, sempre que podia dava um jeito de ter algum espaço em jornais de bairro e em rádios comunitárias. Destaque para a Coluna West Rock News que circulou no Jornal Zona Oeste e para o Programa Music for Nation na Rádio Comunitária de Campo Grande, ambos em 1997. Em 2001/02 fiquei a frente da seleção de bandas que tocaram no Espaço Cultural 911. Atualmente sempre que possível divulgo shows, zines, programas de rádio, faço tudo o que possa ajudar os trabalhos que considero sério no mundo do rock e eventualmente eu organizo shows. O último foi o Parayba Rock Fest. Além disso, sou colaborador de sites e veículos alternativos, no geral fotografando ou escrevendo, destaco os sites Mistura Cultural e o Portal Rock Press, neste último faço resenha de shows e CD’s, escrevo notas diárias sobre rock.
No ano de 2008 coloquei em pratica o antigo sonho de ter um selo cultural e fazer lançamentos de discos (CDs, DVDs e LPs), Livros, Revistas… e no final do ano lancei o primeiro disco da banda carioca Repúdio, até o final de 2009 acredito que mais um disco vai estar na praça e até o final do ano de 2010 outros titulos serão lançados e espero que o meu livro sobre a Cena Rock Carioca da zona oeste. Quem quiser entrar em contato comigo é só escrever: michaelmeneses@portalrockopress.com.br

Julio Longo: Toco em banda desde 2001. Então acho que a colaboração se refere mais a criar músicas, compor, divulgar shows, comparecer a shows e, principalmente, tocar.

Davi Baeta: Participava organizando shows em Cabo Frio e Região dos Lagos, tocando com algumas bandas e gravando/produzindo demos e CD’s.

Perninha: Contribuía indo aos shows e comprando demos, zines. Viu? Vou pro céu.

Kitia: Organizar eventos e divulgar os já conhecidos, além de freqüentar e tocar muito.

Mauk: Cara, eu toco numa banda há 22 anos, pois é o que gosto de fazer. Discotequei por um tempo, entre 1990 e 1995, em algumas casas como Kitchnet & Dr. Smith e sempre que pude ajudei gravando bandas no estúdio de amigos, que é o que faço pra ganhar a vida, ou fazia, pois agora estou desempregado… (risos)

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04 – Qual foi a primeira banda carioca que você ouviu?

Boka: Uzômi e Gangrena Gasosa dividiam uma fita de 60min.

Athos: A primeira banda eu não lembro. As primeiras bandas foram as da minha região: Netinhos de D. Lázara, Cara de Porco, e por incrível que pareça a banda que me fez entrar de cabeça no hardcore e começar a ouvir as bandas e me interar foi o Ataque Periférico. Isso antes mesmo de ousar imaginar em conhecer os caras e tocar na banda.

Rafael: Na verdade foi a primeira que eu vi em ação, sem antes ter ouvido, que foi a Fokismo.

Fábio: Bom, a primeira banda independente que ouvi, se não me engano, foi a de uns amigos próximos, a Destroyer, eles faziam um Hard Rock (estilo em voga por aqui no final dos anos 80) com letras em português.

Alexandre Bolinho: Dorsal Atlântica

Michael Meneses: Não sei ao certo, mas acho que foram as bandas que se apresentavam no Programa do Chacrinha nos anos 80, gente como Barão Vermelho, Blitz… Já no cenário underground acho que foram a Karne Krua pelo cenário Sergipano, e o Taurus e a Dorsal Atlântica pelo cenário carioca e até mesmo nacional, já que ouvi todas essas bandas em Aracaju.

Julio Longo: Serial Killer e Planet Hemp.

Davi Baeta: Não recordo a banda que ouvi, mas a que primeiro me impressionou foi o Reajuste.

Perninha: Def3, banda que me impressionou e que eu sou fã até hoje.

Kitia: Não lembro (risos)

Mauk: 402 que era a banda do meu irmão Léo, no início de 1980 com o Fernando Magalhães & Carlos Maquiavel, eles não gravaram nada, mas duas das músicas eu sei tocar até hoje. Tinham como influência a cena Punk 77, bandas como Jam, Clash e Damned.

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05 – Um show inesquecível no Rio de Janeiro:

Boka: Slayer

Athos: Há um tempo atrás rolou cólera no Garage. Em 2004, eu acho. Eles começaram a tocar umas 3:30 da manhã e só terminaram quando o sol estava nascendo. Foi um show que ficou marcado para mim.

Rafael: Eu infelizmente não peguei aquela célebre série de shows fodas no Rio na década de 90, que só tem coisa memorável. Nego até chora de ter visto e quem não viu chora também (risos). Mas o Hatebreed e Agnostic Front foi memorável pra mim.

Fábio: Acho que o show do Vitamin X no Espaço 911 foi inesquecível, porque o estilo tocado pelos holandeses estava longe de estar na moda em nossa cena, e mesmo assim, o pico ficou cheio (o que, diga-se de passagem não era difícil pelo tamanho), e a molecada conheceu e adotou na hora o HC Old School feito pela banda, o que pra mim, foi muito importante, pela seqüência de bandas do estilo que surgiram na cena e pela oportunidade, que nós, que já tocávamos o estilo passamos a ter. Outros shows foram inesquecíveis, como a primeira vez que vi o DFC no Garage, o Mukeka Di Rato num abarrotado pico na Zona Sul, o Negative Control no Garage, o Agnostic Front no mesmo pico e o Sociedade Armada no Rato no Rio, em Bangu.

Alexandre Bolinho: Ramones no circo Voador, claro!! 4 de Novembro de 1994! Da cena under, teve um Kaos Urbano e Pornô Punks, em 93, que teve de tudo: strip, sexo oral no palco, sorteio de puta…

O Exploited em 92 foi engraçado e histórico, por todo o contexto da época – menos de 300 pessoas no Circo Voador, mais da metade skinheads paulistas. Porrada comendo solta e, pra finalizar, greve de ônibus depois do show e todo mundo voltando a pé pra casa…

Michael Meneses: Vi muita coisa legal. Um show inesquecível foi o Sepultura, no Hollywood Rock em 94, na Praça da Apoteose. A banda representou o Rock Brasileiro como nenhuma outra fez num festival no país. Os músicos vestindo camisas de bandas como Dorsal Atlântica, The Mist… João Gordo participando do show com “Crucificados pelo Sistema” e o Max do Sepultura anunciando a jam “Relembrando os velhos tempos de Ratos de Porão e Sepultura no Circo Voador…”. A turnê foi do álbum Caos A. D. (para mim o melhor). Tudo funcionou e acho que esse foi o momento mais bonito do rock nacional.

Julio Longo: Agnostic Front e Hatebreed no Circo Voador, Bad Brains no Circo Voador, Varukers e RDP na Lona de Realengo.

Davi Baeta: Vários foram inesquecíveis, mas posso destacar Hatebreed, Agnostic Front, Otra Salida e Ataque Periférico no Circo Voador.

Perninha: Ratos de porão no Circo Voador.

Kitia: Attaque 77 da Argentina no Garage…

Mauk: Tiveram vários: Stray Cats, Echo and the Bunnymen (1987) , Jesus and Mary Chain, Ramones, Morrissey, PIL, New Model Army, Bo Diddley, Chuck Berry, Little Richard , Jerry Lee Lewis. Tiveram vários nacionais que eu curti muito ver… O Legião, a Plebe Rude, O Kongo, Finis Africae, IRA! Tive a oportunidade de ver essas bandas tocando em lugares pequenos e outras mais…

Siouxsie (em 1987 no Clube Monte Líbano) e o do BAD (Big Audio Dynamite) banda do Mick Jones do Clash, que tocou uns 4 dias no Teatro João Caetano.

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06 – Que lugar você freqüentava quando começou a conhecer a cena carioca?

Boka: Garage!

Athos: Rato no Rio, Casa da Zorra, Praça de Rocha Miranda.

Rafael: Olha eu era bem ausente de cena, mas ia de vez em quando pro Garage e Rato no Rio, mas bem pouco.

Alexandre Bolinho: Caverna, Circo Voador.

Michael Meneses: No Geral os point’s da Zona Oeste, em especial o Largo do Cassino Bangu. Era lá que os punks e os heavys trocavam idéias depois dos shows no Caverna, ou dos ensaios de bandas como Gangrena Gasosa, Sex Noise, Blastd, Blockhead, entre outras. Em agosto de 1991, o Garage começou a funcionar e esse era o point dos sábados e sempre que tinha algo legal estava no Circo Voador.

Julio Longo: Garage e Black Night (Tijuca).

Davi Baeta: Freqüentei mais o Garage no RJ e a Arena /Eclipse em Cabo frio, hoje, apesar de fugir um pouco ao foco, recomendo o Circo Voador.

Perninha: MHS Skate Park.

Kitia: Rua Ceará.

Mauk: Papagaio Disco Club “festa Papa Wave”, Crepúsculo de Cubatão, Circo Voador, Robin Hood Pub, Suburban Dreams, Noites Cariocas, são os que me lembro agora.

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07 – Que lugar você freqüenta e/ou indica hoje na cena carioca?

Boka: Indico qualquer show nas lonas culturais. Todas possuem uma estrutura de shows muito foda. A Audio Rebel, apesar de pequena e quente pra caralho já teve bons shows. Rafael e Athos do AP têm feito um trabalho muito foda em Realengo, trazendo sempre boas bandas e dando oportunidade às novas.

Athos: Hoje os lugares para mim são: Circo Voador e Audio Rebel.

Rafael: Hoje em dia está bem fraco de referência de um lugar onde tenha identificação de cena, tem a Audio Rebel.Tem também o Parada Obrigatória em Realengo, que era em Bangu, não tem aquela aura q tinha o Garage, por mais sujo e podre que fosse, era o Garage!!

Fábio: Acho que os barzinhos vem tendo um papel importante na manutenção de uma cena ativa, pena que muitas vezes o objetivo do dono do espaço seja apenas lucrar com o que julgam ser a moda, o que leva aos mesmos fecharem suas portas para o rock com a mesma facilidade com que surgem outros com o mesmo propósito. Atualmente não vejo nenhum pico ou evento fixo, que estejam se mostrando de grande valia para a cena carioca, não ao menos que estejam consolidados.

Alexandre Bolinho: Cine Lapa, Audio Rebel, Lonas Culturais, extinto Léo’s bar.

Michael Meneses: Acho que os melhores lugares são: O Clube Mackenzie no Méier e os eventos da Rio Metal Works, além do Fullmetal, em Campo Grande, e quando fazem shows autorais não tem para ninguém e são exemplos para serem seguidos por qualquer organizador. Também destaco o Creu-Fest em Realengo, e ainda as Lonas Culturais que sempre que dão espaço a eventos undergrounds (com bandas autorais). Outro bom espaço, mas que não tem a mesma magia que o consagrou como um símbolo do rock nacional é o Circo Voador.

Julio Longo: Audio Rebel, Cine Lapa e Circo Voador.

Perninha: Elam, lugar muito foda!

Kitia: Rua ceará e Lapa.

Mauk: Recomendo as festas do DJ Edinho “Paradiso” ,”Inferninho” a que ele fizer, O Riobilly Fest ou Party, A festa Lick it up,

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08 – Top 5 bandas cariocas:

Boka: Uzômi, Satangoss, Halé, Ataque Periférico e Ted Palhaço.

Athos: Confronto, Ataque Periférico, Norte Cartel, Halé e Liberpensulo.

Rafael: Confronto, Norte Cartel, Liberpensulo, Alarme e Halé.

Fábio: Norte Cartel, Cervical, Naira, Nuestro Sangre e Fokismo.

Alexandre Bolinho: de todos os tempos? pode ser? I.M.L. (insubordinados, mortos e libertários): a melhor banda de hardcore dos 90’s, Serial Killer, Ack, Dorsal Atlântica e Gangrena Gasosa (os shows mais divertidos, ever!)

Michael Meneses: Mustang, Netinhos de Dona Lazara, Libepensulo, Crime Passional e Statik Majik.

Julio Longo: Confronto, Cervical, Naira, La Santa Máfia e Autoramas.

Davi Baeta: Confronto, Itsari, Norte Cartel, Agohry e Deluxe Trio. (atemporal incluiria no lugar dos últimos o Solstício, o Reajuste e o Noção de Nada).

Perninha: Ataque Periférico, Def3, Estudantes, Jason e Plastic Fire

Kitia: Lacrau, Vilipêndio, Guerrilha, DDC e Repressão social.

Mauk: Canastra, Os Carburadores, As Doidivinas, Filhos da Judith e Os Estudantes.

Quem é quem nesse bate-papo:

  • Mauk (Bigtrepou A GRANDE TREPADA), 37 anos, Sonoplasta.

  • Michael Meneses, 35 anos, fotojornalista, colaborador do Portal Rock Press, do Programa de Rock na Rádio Aperipe FM em Aracaju/SE, criador do Selo Parayba Records e agitador cultural.

  • Fabio Oliveira Azevedo (Fokismo), 31 anos, Supervisor de Distribuidor Geral da Oi (Telefonia Fixa).

  • Davi Baeta (CervicalSolstício), 27 anos, produtor e técnico de som.

  • Boka (Satangoss), 28, designer multimidia

  • Perninha (Halé)

  • Kitia (Lacrau), 26

  • Julio Longo (Norte CartelOs Pazuzus), 26

  • Athos Moura (Against/Ataque Periférico), 22, estudante de Jornalismo

  • Rafael (Against/Ataque Periférico), 27, analista de suporte

  • Alexandre Bolinho (Kopos Sujus), 36, Psicólogo

 

Deise Santos
Carioca, jornalista, produtora cultural, baixista e guia de turismo. Deise Santos é apaixonada por música - principalmente rock e suas vertentes -, literatura, fotografia, cinema, além de colecionadora - contida - de vinis. Pé no chão e cabeça nas nuvens definem a inquietude de quem está sempre querendo viajar, conhecer pessoas e culturas diferentes. Idealizadora do Revoluta desde seus ensaios com zines, blogs e informativos, a jornalista tem como característica a persistência em projetos que resolve abraçar.
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